sexta-feira, 3 de agosto de 2018

D.b

Eu sempre acreditei no amor, na pureza do desejo, na certeza incerta do sentimento...
Mas naquele momento eram as dúvidas que me rodeavam.
Nossas personalidades haviam se intensificado depois de longos meses à espera de uma resposta.
Eu estava cada vez mais impaciente,
E ele cada vez mais tardo.
O futuro decorado por planos de uma casa ampla rodeada e enfeitada por plantas, com convidados felizes e conversas animadas, parecia um pouco mais cinza.
Há pouco perdia seu tom laranja fogo de alegria.
Pairava em seu lugar a dúvida.
Os calafrios que percorriam meu corpo, já não eram regados pela paixão.
Meu desejo era quase tão murcho quanto maracujá velho.
As cores com que ele costuma pintar minha vida, e que eu tinha certeza que ninguém mais poderia colorir com tanta vivacidade, já estavam desbotadas.
E apesar de tantas outras pessoas, pintarem minha vida com cores tão mais vivas, eram as cores dele que eu queria em minhas telas.
Sentimentos assim, me faziam imaginar cada casa do mundo, que era habitada por famílias alegres e barulhentas, sem um único ser humano.
Como os ladrilhos, azulejos e rejuntes eram inúteis.
Como as porcelanas pintadas a mão, as velhas panelas de vidro ou barro e bules esmaltados eram insignificantes.
Como os imãs de geladeira e quadros de avisos eram quase cômicos mediante ao abandono.
Eu queria e ao mesmo tempo não queria pertencer a ele novamente.
O vazio que uma vez fora associado a sua ausência, agora pertencia a sua presença.
O único calor que eu sentia, era emanado do meu próprio corpo, e vinha acompanhado pelo frio característico das febres altas.

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